sábado, 11 de setembro de 2010

Corredor do Poder... ou Academia dos Tretas



Nas quintas-feiras à noite podemos ver na RTP1 o Corredor do Poder. O título do programa é bastante feliz porque o que podemos assistir é ao debate político entre cinco corredores do e para o poder. No entanto, também o podemos entender de outra forma, ou seja, como uma espécie de amostra desse corredor. Durante o programa visionamos em directo a exibição acrobática de alguns jovens políticos conhecidos (a maioria com cerca de 40 anos), os quais funcionam como protótipos dos políticos que fazem parte do corredor do poder.

Se fosse pintor surrealista e um dia pintasse um quadro sobre o corredor do poder, desenharia na diagonal um comprido corredor de paredes negras, sem luz e ao longo desse corredor vários cabides com majestosos fatos pendurados. É a imagem que tenho desse corredor, uma sucessão de lugares, uns preenchidos, outros temporariamente vagos, à espera de corpos desabitados de personalidade e ideias próprias, formatados pelas medidas pré-definidas das ideologias frívolas dos partidos que representam. Neste sentido, os protagonistas do Corredor do Poder têm sido esses corpos que preenchem aqueles fatos vazios do nosso corredor do poder.

Ainda que o título seja feliz, proponho um nome alternativo mais adequado: Academia dos Tretas. Academia dos Tretas porque todas as quintas podemos assistir a uma espécie de conversa da treta sem humor e inconsequente, pautada por cinismo e palavras e gestos amestrados. Semanalmente, estes jovens políticos conhecidos ocupam o escuro do corredor e, envergando os fatos outrora vazios, fazem o seu treino para ascensão no interior dos seus partidos.

Os debates na Academia dos Tretas permitem perceber que as suas maiores preocupações não são a resolução dos problemas que afectam a sociedade nem a persecução do bem comum. Pelo contrário, o seu principal objectivo é elevar-se no seio dos seus partidos (carreirismo político), recorrendo a argumentos vazios, a exemplos cuidadosamente engendrados e à ofensa gratuita. Simultaneamente, decalcam os gestos e as palavras dos seus correligionários mais velhos e reproduzem até exaustam o sectarismo ideológico. Essa elevação intra-partidária é construída à custa do jogo sujo contra os seus concorrentes, à semelhança do corredor dos 100 ou dos 200 metros que tenta puxar ou derrubar os adversários das pistas do lado e, em alguns casos, até como o corredor de estafetas que propositadamente atrasa a passagem ou deixa cair o testemunho quando se aproxima do membro da sua própria equipa. Os fins continuam a justificar sempre os meios...

Uma coisa é certa, pelo que se vê na Academia dos Tretas, a política portuguesa não evoluirá positivamente nas próximas décadas. A nova geração de políticos, além de plagiar aqueles que são os maus exemplos dos políticos mais velhos, ainda tem contra si o facto de desconhecer a originalidade e o engajamento social de alguns dos seus antecessores.

1 comentário:

  1. os fatos não podem permanecer vazios meu caro.
    o peso que lhes pende dos bolsos derrubaria o cabide, e com ele outros fatos.
    há que povoar os fatos com personagens, pois o "partido" já não é o Partido, mas antes o Party.
    não são as ideologias movem "jovens", mas sim os outshores.
    tenho dito.

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