segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Conspirações dos desejos na acareação do nós

Francisco Parlagreco, Boxeur – ost 84x64

06/02/2010

No intervalo da acareação do nós
nas solidões dos nossos corpos temporariamente isolados
receamos a esterilidade do confronto
duvidamos dos nossos músculos e vontades
Sentados, mendigamos a eternização do minuto
improvisamos o adiamento da inevitabilidade do reencontro

Os ritmos da nossa respiração desafinam
As orientações do nosso olhar desencontram-se
convergindo na direcção dos joelhos
Separados, partilhamos o instante e a mesma contradição
por baixo dos músculos os ossos convertem-se à conspiração do desejo
enquanto os pescoços parecem resignar-se aos medos

O tilintar da sineta irrompe nos ermos da equação do nós
Os sons nos nossos ouvidos estimulam a ausência de dúvidas
geram a convicção na fecundidade da combatividade
Erguemo-nos em direcção ao reencontro
caminhamos em rumos opostos para o mesmo destino
As respirações e os olhares convergem
formando um único corpo, regressamos à acareação do nós

Agora, trago debaixo das pálpebras as cicatrizes das tuas derrotas
em cada pestanear testemunho o epílogo dos teus combates
Na solidão da boca, em exílio de línguas e boquilhas
provo o sabor do cocktail de sangue e suor que te escorre das temperas
Os músculos cansados estremecem, as pernas paralisadas desistem do peso deste corpo
Os teus olhos tropeçam nos meus
Sinto os teus medos a roçar nos meus

Em redor do ringue, tumulo temporário do nós
eterno para os braços renunciantes
Uma multidão impotente masturba a nossa dor
alimenta-se dos nossos músculos em movimento
No final, regurgitará os excessos da resistência das nossas vontades
misturando vitória e derrota no mesmo aplauso e ovação

Depois do silêncio da multidão e das nossas evasões
remanesce um tumulo sem corpos nem medos
gravado para sempre com o nosso sangue e suor
Da tua derrota resta uma toalha branca esquecida no chão
Nas testemunhas sem memória nem uma imagem
dos encontros e desencontros que fazem a história desse nós

Sem comentários:

Enviar um comentário