domingo, 27 de dezembro de 2009

Em Nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo... e da Desigualdade

Este ano o retorno do Natal trouxe-nos os habituais ornatos com as cores e as figuras de sempre e, mais uma vez, os holofotes e os altifalantes tenderam para os principais protagonistas da Igreja Católica.

Numa entrevista à Rádio Renascença, D. Manuel Martins salientou que a proposta que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo serve para dividir os portugueses e que tem pena que certas propostas de lei se façam e que, sobretudo, se façam nesta altura do natal. Presumivelmente estimulado pela atenção que lhe prestaram, o Bispo de Setúbal também aproveitou a ocasião para atacar o Governo acusando-o de ofender e provocar o que designou de consciência cristã e afirmou que certas propostas de lei servem apenas para distrair os portugueses numa altura em que o Governo se encontra em sérias dificuldades para governar.

Não que o Governo não deva ser atacado, porque o merece. A questão que se coloca é se o móbil deste ataque deve ser o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não haverá motivos mais importantes?

Actualmente vivemos uma crise económico-financeira que tem contribuído para o aumento do desemprego e da pobreza dos portugueses. O casamento entre pessoas do mesmo sexo divide mais os portugueses do que o ter e o não ter emprego ou do que ter e não ter rendimentos para suprir as necessidades mais básicas? Será que atingimos o cúmulo do ridículo em que o alargamento de direitos a uma minoria parece castigar mais a consciência cristã do que a carência social e económica de milhares de portugueses?

Deixemos então os problemas de uma maioria e debrucemo-nos sobre o facto de que parte de uma minoria poder concretizar uma vontade e poder legitimar um estado civil que já vive no quotidiano, passando a jogar em pé de igualdade com o resto da população, poder constituir ou ser entendido como uma provocação, principalmente, quando consagrada na altura do natal.

Não sendo especialista em espírito natalício, associo-o a um momento de proporcionar felicidade e de concretização de sonhos. É legítimo excluir determinadas pessoas deste espírito ou essas pessoas terão de ter outros sonhos ou ser felizes de outro modo?

O espírito natalício deve ser um estado de compreensão e de convivência pacífica, em suma, deve ser amar o outro apesar de todas as diferenças. No entanto, de acordo com as palavras de D. Manuel Martins parece que a consciência cristã convive melhor com a desigualdade do que com a igualdade entre seres humanos.

Outros dos holofotes e altifalantes dirigiram-se para o Bispo de Viseu que, por sua vez, usou uma terminologia mais belicista e apelou menos ao espírito natalício. De acordo com D. Ilídio Leandro, a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo é um “atentado à família”: “Atribuir o instituto do casamento a outro tipo de uniões que não respeitem a natureza e os objectivos do casamento, nomeadamente a procriação, é um desrespeito à família”.

Este bispo refere a procriação como um dos principais predicados da família, por isso, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é um atentado à família.

Aqui perco-me nas suas palavras... Não posso partilhar esta concepção de família nem vejo as pessoas do mesmo sexo que se amam e que pretendem casar como terroristas prontos a destruir a família. Na minha perspectiva, mais do que a procriação, o que sustenta a existência de uma família é o afecto, a vontade partilhada de convívio e outros laços recíprocos capazes de manter os membros moral e materialmente unidos.

O que destrói a família não é o reconhecimento e a legalização de famílias construídas sobre o amor de duas pessoas do mesmo sexo e que já existem na nossa realidade social, mas a insistência ou a falta de opções que castiga as pessoas que coabitam sem amor, infelizes e/ou como alvos de violência doméstica... É contra isso que a Igreja e os seus protagonistas devem lutar!

A consagração do casamento entre pessoas do mesmo sexo não pode ser entendido como algo que divide os portugueses. Pelo contrário, é a Igreja e aqueles que negam o casamento para uma franja da nossa sociedade que estão não só a separar, mas também a hierarquizar os portugueses.

Os desabafos destes dois bispos são fruto do desespero de quem vê escapar por entre os dedos a faculdade de outrora, ou seja, de nos governar de acordo com as suas verdades e convicções.

A esses bispos peço para que recordem que a Igreja não detém o monopólio da verdade. Quantas vezes a Igreja veio a público pedir desculpas pela sua história, pela dor que infligiu e pelas vidas que destruiu?

Não tantas como deveria, certamente! Por isso e para que não aumente o rol de razões para novos pedidos desculpa, desafio-os a continuar a professar a sua fé, mas que deixem de condicionar aqueles que não partilham essa fé ou aqueles que partilhando a mesma fé não se revêem em determinadas posições da Igreja. A Igreja tem de se adaptar à evolução social e inserir na sua matriz a tolerância e o respeito por aqueles que não se regem pelo que considera ser a norma.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. concordo com essas merdas todas excepto adoptar crianças

    a falar de faggots...

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  3. Adegas, és o maior... Quanto à adopção, é melhor que as crianças fiquem em armazéns do que cada uma delas viva no seio de uma família?

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  4. Os hetero a fugir do casamento e os homo à procura dele. Não é o cerne da questão para os homo, porque essa é a própria discriminação que sentem só por o serem. Os entraves ao casamento entre pessoas do mesmo sexo deixarão em breve de fazer sentido. Os padres não podem procriar, nem casar...estão a defender a camisola. Esta questão foge às camisolas, mas é demasiado óbvia. Quando falarmos de adopção aí sim teremos as virgens ofendidas, o verniz estalado e talvez uma verdadeira preocupação com os seres humanos órfãos

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